Cresci ouvindo da galera que me cercava que ficava mais bonita de cabelo liso. Sofri bullying na escola porque meu cabelo era volumoso, e eu vivia fazendo relaxamento no cabelo porque eu não conseguia lidar com o volume dele e não sabia cuidar do meu cabelo da forma que devia. Acabei ouvindo a opinião das pessoas, pois não conseguia de jeito nenhum me aceitar do jeito que eu era.
Quando eu tinha dezessete anos, fiz meu primeiro alisamento. Eu me senti realmente realizada. Lembro que a própria cabelereira me perguntou: “Você tem certeza de que quer alisar? Seu cabelo está tão bonito”.  Eu me olhei no espelho e por um momento, tive vontade de desistir. Eu quase consegui enxergar a aceitação naquela tarde, mas acabei seguindo em frente.
Fiz vários alisamentos e relaxamentos no meu cabelo, sendo que já tinha sofrido queda no cabelo uma vez. Meu couro cabeludo ardia e eu sentia dores de cabeça quando alisava meu cabelo, mas eu estava disposta a pagar o preço para me sentir bonita.
Foi em 2014 que eu percebi que a textura do meu cabelo não era mais a mesma, e o dois últimos relaxamentos que eu fiz começaram a fazer meu cabelo cair de uma forma absurda, e acabei desistindo de relaxar e alisar. Fiquei fazendo escova em meu cabelo por um tempo até que decidi cortá-lo na altura do pescoço.
Confesso que cortar foi fácil, mas a adaptação foi difícil. Meu cabelo é cheio e encolhe quando não está de escova e prancha, e as vezes ele não fica do jeito que eu quero, pois ainda tem muitas partes lisas, mas acredito que todo esse esforço e sofrimento irá valer a pena no final.
As duas texturas em meu cabelo me incomodam, e só consigo ver o tamanho dele quando faço escova, mas estou conseguindo me adaptar. Já estou há 1 ano e 1 mês em transição, e estou começando a finalmente me aceitar do jeito que eu sou.
E agora eu pergunto: Quem são vocês para falar que meu cabelo não é bom só porque não está nos padrões da sociedade? Deus me fez cacheada, e se eu sou assim, eu tenho que me amar do jeito que eu sou.
Não sou uma modelo, não tenho um corpão bonito e nunca serei a mais bonita da turma, mas eu tenho a minha beleza, e estou amando a minha pequena juba.
Por muitos anos, eu me deixei levar pelos comentários negativos de pessoas  medíocres que nunca acrescentaram nada em minha vida, mas estou aprendendo a absorver somente aquilo que me faz bem.
Estou totalmente fora dos padrões de beleza que a sociedade impõe, eu sei disso. Mas eu cansei de tentar me igualar a esses padrões tortuosos que dizem que eu tenho que alisar o cabelo para me sentir bonita. Não, eu não preciso fazer nada disso. Eu me basto!
E, por fim, quando a transição acabar – o que acredito que será em breve, tenho certeza de que todo o esforço terá valido a pena. Porque eu estarei vivendo naturalmente, do jeito que Deus me fez.
E pra você que me chamou de Juba de Leão, muito obrigada! Leões representam a coragem, a bravura e são bastante imponentes. Vocês não estavam me ofendendo. Na verdade, estavam me elogiando.
Quero a minha juba de volta, meus cachos e a minha liberdade de expressão. Não quero mais fazer parte de uma ditadura que diz que ter o cabelo liso perfeito vai fazer com que eu me sinta mais bonita. Quero me sentir bem, e só conseguirei fazer isso sendo eu mesma.

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